KBOCO: TUDO É TUDO E NADA É NADA
Horário de Funcionamento:
de segunda a sexta,das 10h30 às 19h e sábado das 11h às 16h
Tudo é tudo e nada é nada – filosofia difundida pelo músico carioca Tim Maia
As obras do artista Kboco apresentadas nesta individual têm um pé na rua.Não se trata da domesticação do grafite, comum na geração dos grafiteiros que trocaram a fuligem das avenidas pelo cavalete, mas a transposição de um modo de pensar o espaço a que o artista aplica sua verve criativa. Na sala expositiva, o já clássico cubo branco é inteiramente preparado para receber as telas. São reiteradas camadas de pintura mural, esmaecida com tinta branca, uma espécie de nicho onde são exibidas suas recentes criações. Aquilo que poderia ser visto como um ruído na leitura da obra é, na verdade, a sua ambientação e ao mesmo tempo parte indissociável dela.
A trajetória de Kboco é carregada de um romantismo que contrasta com o resultado de seus trabalhos, seja nos grafites que realizava em Goiânia, sua terra natal,seja nas diversas cidades brasileiras que percorreu nos últimos dez anos. A instrução formal em artes começou com cursos livres na interiorana cidade de Goiânia, instigados por sua mãe, porém sua escola foram as ruas, zonas degradadas e, sobretudo, as pessoas que conheceu em cidades como Olinda, Salvador, Vitória, Porto Alegre, Berlim, NovaYork, Santiago do Chile, entre outras. Em cada uma dessas localidades,Kboco alimentou seu vocabulário visual com grafites e pinturas em que experimentava soluções para espaços públicos e também privados da periferia, agregando texturas, cores e elementos arquitetônicos à sua produção. Segundo o artista, é esse o alimento primordial do seu trabalho, o contato direto com as ruas e as pessoas.
À experiência urbana e humana de que se alimenta, o artista soma elementos das culturas pré-colombianas e também árabes, especialmente o simbolismo dos padrões geométricos das mesquitas que visitou no sul da Espanha. O orientalismo da recente produção advém do apreço pelos vencidos, pelas culturas subjugadas pela civilização ocidental ou marginalizadas por questões sociopolíticas.
Ainda que numa galeria, o artista mantém a sua marginalidade, atendo-se à vida real,seus ruídos e conflitos, mais que à erudição e o frisson dos grandes centros urbanos. O que o visitante observa nas telas e nas paredes da galeria é a síntese de um universo em conflito, da acomodação de diferentes camadas de história, daí a sobreposição de colagens,simbolismos, elementos gráficos em aparente dissonância.