ZÉ CARLOS GARCIA: ESCULTURA CEGA
ZÉ CARLOS GARCIA
ESCULTURA CEGA
Texto de José Augusto Ribeiro
ABERTURA
Sábado, 18 de Março de 2023, às 11h.
PERÍODO EXPOSITIVO
18 de Março de 2023 - 06 de Maio de 2023
HORÁRIO DE VISITAÇÃO
seg- sex, 10h30-19h / Sáb, 11h às 16h
Tel: +55 11 3079-0853
A forte influência das alegorias das escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro, a paisagem do Nordeste, o hibridismo de matrizes diversas e a sustentabilidade permeiam as obras do aracajuense Zé Carlos Garcia, que trabalhou como escultor por dezesseis anos no universo carnavalesco ao lado de personalidades como Joãosinho 30.
A exposição Escultura Cega, em cartaz na Galeria Marilia Razuk - que no ano passado completou 30 anos de atuação no mercado - a partir do dia 18 de março, apresenta trabalhos inéditos do artista, com madeira oriunda de poda urbana, fragmentos de mobiliários antigos e manejo florestal, além de materiais como penas e pedras.
O trabalho de Zé Carlos é resultado de um amálgama cultural, da mestiçagem de povos que forjam o que temos por Brasil. Seus objetos e traços remetem a elementos da religiosidade de matriz africana, à cultura indígena e ao colonial português – como os desenhos entalhados em “Chorando Pitangas” – , esse último, um verdadeiro alfabeto urbano, presente nos ornamentos das casas do sertão nordestino, ou em cenários que podem servir de suportes de pichações nas grandes cidades. Referências como o caranguejo, típico da feira do mercado municipal, nos bares e restaurantes e em representações de Aracaju, capital de Sergipe, também podem ser conferidas nas obras, assim como formas e demais elementos que remetem à região.
“A obra do Zé é um hibridismo de matrizes diversas, e não só culturais. Hibridismo entre o barroco e a cultura vernacular de artesãos, ou entre ancestralidades africanas e indígenas. Existem ali também cruzamentos de outras sorte, entre animais e objetos, quando vemos esculturas de madeira cujas partes lembram aves, ovos, trazem penas e, ao mesmo tempo, têm pés de mobiliário moderno. Ele preserva mistérios e ambiguidades, provoca dúvidas, mostra-se sintético, simples - principalmente as peças de parede que estarão nesta próxima exposição -, cheio de elementos ‘incompletos’ e, nisso, meio silencioso também”, analisa José Augusto Ribeiro, Diretor de Projetos Especiais da Galeria Marilia Razuk.
"A escultura por si só é sempre cega. Ao mesmo tempo que algumas peças parecem de alguma forma observar, na verdade só quem vê é o espectador. E tudo o que este espectador vê, pode ser pura criação, algo que só é possível ser observado dentro do universo próprio de cada um. E cada uma dessas leituras é efetivamente possível . Afinal, como somos um país miscigenado, cada escultura terá um pouco de quem a vê”, explica o artista.
“Procurei lançar mão de uma artesania elevada em máxima potência, usando principalmente machado, facas e goivas para a confecção das peças. Onde cada golpe, cada esforço físico feito, me desperta para saber o caminho que vou seguir no trabalho para que ele não fuja simplesmente em um automatismo psíquico. E é essa eterna luta - ou dança - no fazer, que acabo encontrando o equilíbrio entre a forma e o pensamento”,complementa Garcia.
Um extenso trabalho de pesquisa com madeira realizado na última década é refletido nas suas criações. O material proveniente de poda urbana foi recolhido junto ao serviço municipal de manutenção, que descarta troncos e peças de árvores, resultantes dos manejos ambientais das espécies plantadas nas ruas da cidade doRio de Janeiro. O mobiliário garimpado também seria descartado.
Além disso, Zé Carlos mantém há dez anos um sítio na região serrana do Rio. Inserido dentro da Área de Proteção Ambiental, o local foi, em passado recente, zona de exploração agrícola bastante desmatada. Desde que o adquiriu, o artista instaurou um plano de manejo que, dentre outras ações, provê a retirada das espécies invasoras e sua substituição por espécies nativas da Mata Atlântica. A madeira de árvores removidas com o manejo é tratada e utilizada como matéria-prima para seu trabalho.
Essas árvores são, principalmente, o pinus (Pinus elliottii) e o eucalipto (Eucalyptus globulus), não originárias da América do Sul e extremamente nocivas ao solo do bioma local. Com a retirada de espécies exóticas para a produção e obras de arte e o plantio de espécies locais, apareceram os primeiros resultados: o ressurgimento de duas nascentes d’água há tempos extintas.
Sobre o artista
Nascido em Aracaju (SE) em 1973, Zé Carlos Garcia vive no Rio de Janeiro, onde graduou-se na Escola de Belas Artes da UFRJ e frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Foi finalista do prêmio Pipa em2018 e suas obras, esculturas que mesclam elementos como madeira, penas, pedras e crinas de cavalos, estão nas coleções do Instituto Inhotim (Brumadinho, MG), Museu de Arte do Rio – MAR (Rio de Janeiro) e no Museu São Pedro (Itu, SP), além de integrarem o acervo de importantes colecionadores brasileiros
Serviço
Escultura Cega, de Zé Carlos Garcia
Local: R. Jerônimo da Veiga, 131 - Itaim Bibi, São Paulo - SP.
Abertura: 18 de março, às 11h.
Período expositivo: 18 de março a 06 de maio.
Horários de visitação: de segunda a sexta das 10:30 às 19h, sábados das 11h às 16h.Entrada gratuita.