JOHANNA CALLE: INTERTEXTOS
Abertura:
20 de outubro, das 11h às 16h
JOHANNA CALLE
INTERTEXTOS
Redes intrincadas de significado, os desenhos de Johanna Calle dialogam com o universo da caligrafia, da escrita e da estrutura, percorrendo questões políticas e anseios muitas vezes silenciados. A partir de 27 de outubro, a galeria Marília Razuk apresenta sua primeira individual no Brasil, com texto de Rodrigo Moura.
Dona de produção ao mesmo tempo delicada e contundente, a artista colombiana encontrou no grafismo uma forma especial de referenciar problemas e incoerências que permeiam a sociedade latino-americana. Tomando diversas formas de escritura como ponto de partida, Calle se apropria de manuscritos, cartas, partituras musicais, matrizes matemáticas ou técnicas de taquigrafia, numa espécie de jogo permanente entre linhas, palavras e sinais.
Depois de participar da Bienal do Mercosul (2009) e da Bienal deIstambul (2011), a artista traz 32 obras a São Paulo, ocupando a sala principal assim como os espaços menores da galeria. Perpassando diferentes períodos de sua trajetória, a seleção permite uma amostra dos variados processos,materiais, temas e técnicas utilizados ao longo dos últimos dez anos.
“O dinamismo e a versatilidade que eu encontro em diferentes formas de desenho me permite trabalhar com uma variedade de materiais. Mesmo que não existam fórmulas pré-estabelecidas, eu parto de uma gramática baseada em regras permissivas”, explicou a artista. “Continuando com a ideia de comparar desenho à lingüística, considero que neologismos e anacronismos abrem possibilidades estéticas. O desenho é um campo aberto a métodos convencionais,assim como a processos experimentais e novos materiais.”
Duas das obras inéditas apresentadas, PERÍMETROS e LINDES, têm como suporte antigos livros de registro. Enquanto a primeira parte da transcrição de textos que analisam as propriedades de terra e as sucessivas reformas agrárias vividas na história da Colômbia, LINDES trabalha com escritos sobre o processo de desfolhamento de determinadas árvores. Dialogando entre si, os novos trabalhos remetem à memória do território, lembrando que na zona rural é comum usar árvores como modo de demarcar limites de propriedade.
Exibidas na galeria estão também RESTAS e IMPONDERABLES obras inspiradas por livros de contabilidade. Com um procedimento de subtração aritmética sucessiva,até o ponto em que não restam mais números a serem subtraídos, a artista rasga,comprime, quebra e corta estruturas de arame, numa alusão a operações, em que a ordem econômica original foi desestabilizada.
Obstinada, Calle cria variações em cima de um mesmo tema a fim de desenvolvê-lo a seu limite, reconsiderando determinados aspectos ou diretrizes plásticas. O procedimento fica claro em series como “Laconista” (2005)“Perspectivas” (2007) ou “Las Restas “(2009). “As variações são importantes porque me ajudam a entender e aperfeiçoar minha própria metodologia”, explica a artista.
“Johanna Calle desenvolveu uma obra sérias e reflexivas que assinalam, de maneira incisiva, certos sintomas do mal-estar social que sofre nosso país há muito tempo”, escreveu certa vez o curador colombiano José Ignacio Roca. Numa linhagem que tem o argentino Léon Ferrari ou na ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino como dois nomes proeminentes, a artista usa abstração, a linha ou a letra de modo irremediavelmente político.
Johanna Calle nasceu em Bogotá, Colômbia, em 1965, onde vive e trabalha. Após estudar na Universidad de los Andes (1984-1989), emBogotá, realizou seu mestrado em Artes Plásticas pelo Chelsea College ofArt, Londres (1992-1993). Participou da 7a Bienal do Mercosul (2009) e daBienal de Istambul (2011). Entre suas individuais destacam-se “Project Room:Johanna Calle”, no Molaa (Museum of Latin American Art, em Long Beach, CA,2011) e “Variaciones” (Casas Riegner, Bogotá, 2010).